quarta-feira, 19 de março de 2014

sobre o meu pai...

"É um homem bonitão, grande, de cabelo branco e já bastante bronzeado por esta primavera generosa. A sua dimensão física é proporcional ao que tem de sensível.
Foi sempre bom pai e um pai bom. Sempre optimista, mesmo quando era quase impossível. O meu pai acordava sempre que eu aparecia no quarto deles durante a noite assustada com alguma coisa. Sempre me abriu a cama e dizia: "anda lá, mete-te aqui na lura", e eu adorava (acho que ainda adoro). Passava os domingos de manhã ao lado dele na cama. Agora percebo que ele só ficava a curtir a minha companhia. Ficava ali acordado, com os braços a apoiar a cabeça enquanto eu lhe mexia nas orelhas, no cabelo, lhe contava as sardas que tem no peito, etc. Tão doce o meu paizinho. Nunca nos bateu. Nunca nos assustou. Nada. Só amor e paciência. A minha mãe conta que quando os meus manos eram pequenos (nunca foram muito pequenos), o meu pai andava com eles às costas pelo chão a servir de cavalo... e que ela ficava envergonhada quando chegavam clientes... lol (imagino que envergonhada e orgulhosa).
O meu pai começou a trabalhar com 8 anos, usou sapatos usados maiores que os seus pés. O meu pai ensinou-me a gostar de fado e de politica. Ensinou-me que nada parece realmente tão grave no dia seguinte. Fez de mim uma mulher segura que não necessitou de andar pelo mundo à procura de amor, nem de aprovação. Fez de mim optimista e sonhadora. Fez-me acreditar no amor e no casamento forever. Ensinou-me que podemos ser felizes com muito dinheiro ou com pouco. Dele herdei tantas coisas (mais do que os meus irmãos), principalmente um feitio do caraças sempre que me contrariam :D

Podia continuar a escrever mais umas 100 000 palavras e todas seriam poucas. Basicamente ele e a minha mãe são incríveis e formam um dream team. Vivem em paz e com muito love (ainda que o mundo amanhã, tal como "ontem", vire do avesso). Que orgulho."

texto de 2011

Sem comentários:

Enviar um comentário